quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Título pela janela

Na hora não teve dúvida. Imitou os gestos de papai e saiu pulando pela sala, entre os sofás e a mesa de centro. Mesmo sem ter uma noção exata do que aquilo representava, aos tenros 10 anos. Vendo o entusiasmo do herdeiro, tomou-o entre os braços e jogava o rebento para o alto. Por pouco o menino não bate com a cabeça no teto. Naquele momento isso nem passava pela cabeça pelo então jovem pai. O ano era 1992 e o Flamengo era campeão brasileiro pela quinta vez. Ou quarta, como queiram.

Desde então, o que parecia ser uma atitude de seguir os passos do pai, tornou-se uma paixão. Posteriormente concretizada em amor. Quiçá religião. Porém o tempo tratou de arrefecer o arrebatador sentimento e a relação esfriou, como muitos casais. O desempenho frente aos grandes clubes do país nos anos posteriores obrigou o rapaz a crescer e a arrefecer o entusiasmo pela combinação vermelho e preto. Quando podia, assistia ao time do coração pela tela do televisor.

Em poucas oportunidades foi ao estádio mais próximo para ver os guerreiros que vestiam aquele manto. Já consciente de que o esquadrão estava à sombra do formado por Júnior, Zinho e companhia. Enquanto os amigos e colegas de trabalho esbravejavam em defesa da respectiva equipe querida, já adulto preferia escutar atento, sem dar tanto pitaco. Temia que a frustração de outrora retornasse. Assim, não fazia muita questão de acompanhar as partidas pela televisão. Contentava-se em ver os resultados nas tabelas impressas nos jornais de segunda-feira e acompanhar os gols da rodada no domingo à noite.

E foi dessa forma que viu o clube faturar vitórias e criar novos ídolos. Com gols de Adriano e Pet, o Rubro-negro subiu pelas tabelas. Temendo que algo ocorresse, preferiu manter a velha tática: não acompanhar ferrenhamente o time em campo e checar as manchetes e tabelas no dia seguinte. Às vésperas e próximo de mais um título, o crescido torcedor já sabe como serão duas horas do próximo domingo. Com o apito final, espera que urro das ruas soe por as janelas. Só assim, como 17 anos atrás, saia aos pulos e gritos entre os sofás e a mesa de centro.