Nada causa mais furor no mundinho jornalístico quando alguém declara, em alto e bom som: “tenho minhas fontes”. Não é porque ter suas fontes seja algo semelhante a uma ferrari na garagem, uma casa de veraneio em Ibiza e um milhão debaixo do colchão. Não. É que a turminha fica curiosa para saber que raio de fonte é essa. Curiosidade, o combustível para o dia-a-dia dessa raça. Os alheios a patota vez ou outra tentam impressionar e soltam um “tenho meus contatos”. Não é a mesma coisa. “Coitado”, silenciosamente debocha o indivíduo da imprensa.
Eis que lá pelas tantas Carlos Alberto, raparigo que escreve o cotidiano de sua cidade querida em um periódico razoavelmente reconhecido, resolveu dar um basta na “solteirice crônica”, como diria uma colega de trabalho (má, aêêê...). Entre BBBs (Bar, Boate e Baladas), procurava por alguém para aquecer-lhe os pés nas frias noites de inverno que se avizinhava. Numa dessas, viu em uma outra colega de trabalho, outra, uma possibilidade latente. Bastou ele aproximar seus 90% que ela completara com os seus 10. Beijaram-se, confidenciaram e trocaram telefones. Com promessas mútuas de continuarem a se encontrar.
Um amigo de ambas as partes fizera a ponte, deixando as coisas ainda mais no meio. Como neste seleto grupo que bota o pão na mesa e paga a conta do bar por conta das notícias, não demorou muito para que aquilo tomasse proporções noticiosas. Ainda que de bastidores. Carlos Alberto encontrava um coleguinha em uma pauta e ele já soltava: “Então, tô sabendo”. Carlos fazia cara de dúvida e o sujeito já emendava um “tenho minhas fontes”. Ia a uma diligência e lá escutava um outro “tenho minhas fontes”. Coletivas para imprensa, não voltava sem menos de seis.
Em casa a mãe já soltara “tenho minhas fontes”. Umas doze vezes. Tentando manter-se apartado das fofoquinhas, arriscou a conduta de dar de ombros. E seguiu os encontros com a moça. Clima bom. Céu azul. Passadas umas duas encontradas, ainda que discretas, a expressão teimava a ser captada pelos tímpanos de Carlos. “Tá indo então? Tenho minhas fontes”, dizia um aqui. “Ah, tenho minhas fontes”, gabava-se um outro ali.
Os encontros continuaram e aquele “tenho minhas fontes” não parava de ecoar na cabeça do rapaz que queria nada mais que a tampa para sua panela. Chinelos Rider para seus pés cansados. Tampa de sua laranja. Feijão para seu arroz. Paul McCartney para seu John Lennon. A situação ficara preocupante. Agravou-se quando os “tenho minhas fontes” vinham em scraps no site de relacionamentos Orkut.
Cansado de ouvir cotidianamente “tenho minhas fontes”, resolveu dar um basta. Chegou a imaginar que, se tudo fosse muito de vento em popa e chegasse a esposar-se com a moça, na hora da entrega o convite tivesse que escutar mais um “tenho minhas fontes”. Não podia suportar aquilo. Sugeriu à querida o desquite. Citou o caso imaginado e ela entendeu. Amigavelmente, deixaram-se.
quinta-feira, 26 de março de 2009
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2 comentários:
Hahahhahahaha, morri! E não quero acreditar no que meus olhinhos hipermétropes acabaram de ler. Como assim, Bial? Cidade pequena é a oficina do diabo para mentes ociosas...
Na publicidade, entre os diretores de arte, também rola esse papo, só que as fontes tem nome: verdana, aero, lucida, times, arial...hehehhe
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