Moravam numa casa pequena, porém viviam rodeadas por um cenário que beirava o paradisíaco. Mas, Geralda e Marisa já estavam desgastadas pelo tempo. Pelas doenças também. Mãe e filha, viúva e solteirona, não arredavam pé dos limites domésticos. O convite a um passeio proporcionado por um belo dia de sol era menosprezado pela dupla. Geralda com 55 anos ficava deitada o dia inteiro. Mamãe Marisa, 77, atendia às manhas da filha e gostava de espiar a vizinhança pela janela.
Gerardinha, como se referiam jocosamente, era hipocondríaca. Algo ao extremo. De dar inveja e até causar espanto àqueles que tomam analgésico prevendo uma dor de cabeça nas próximas horas. Arrumava doenças inimagináveis. Dizem que uma vez Geralda alegou que era alvo de cupins que estariam roendo a mobília. A dedetização na casinha comprovara que os bichinhos jamais passaram por aquelas bandas. Crescia a suspeita de que as marcas no corpo eram fruto do enorme volume de remedinhos de ingeria.
“Gerarda” ficava na cama o dia inteiro. Levantava-se somente para ir ao banheiro. Isso quando nem se dava ao trabalho e fazia sobre o colchão. Não era das mais asseadas. Ao contrário da mãe. Dona Marisa, ainda que de forma estabanada, culpa da velhice que batera à porta e adentrara, à sua maneira dava conta dos serviços domésticos. Dava uma varridinha na casa, preparava as refeições e cuidava da filha. Só deixava o lar para ir ao supermercado ou à farmácia renovar o estoque da hipocondríaca e comprar as vitaminas que necessitava. Tomava cálcio para os ossos.
Ainda assim, mãe e filha viviam enclausuradas na casinha de 80 metros quadrados: sala/cozinha, banheiro e quarto. Não davam bola para a praia, a poucos metros, nos fundos da residência. Por conta disso, pareciam viver em um fuso horário diferente dos cidadãos comuns. Não era raro serem surpreendidas por visitas almoçando às dez da matina ou às cinco da tarde. O cotidiano irregular podia ser culpado pelas doenças de Geralda, que pareciam se agravar durante as madrugadas.
Dia desses, Dona Marisa passava o café durante um belo dia de verão. Intervalado por ais e uis, a filha repousava no quarto, com a janela fechada. Entre suspiros e aos gritos questionara a zelosa senhora: “Mamãe, que horas são?”. A velhinha direcionou o olhar ao relógio de ponteiros. O menor no oito, o maior próximo ao três. “São oito e quinze, minha filha”, respondeu. Segura que não estava suficientemente informada, Geralda deitada sobre a cama e aos berros, lança nova indagação para Marisa. “Da manhã ou da noite?”. A resposta demorou alguns instantes, mas saiu. “Pois eu não sei”, dando fim ao diálogo.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
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Um comentário:
Hahahahhaha, isso é mentzira! Ah, uma surra de relho nesta Gerarda... eu sei bem o que ela queria...
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