Já com a idade avançada, a senhora dava sinais que não tinha mais a audição tão apurada como outrora. Estava ficando meio surda. Além disso, com certa periodicidade entrava em conflito com a filha mais velha, que morava na casa ao lado. Para poder cuidar, ainda que distante, de dona Vilma. Tarefa difícil para a filha, que em alguns momentos lhe faltava paciência por causa das manias da mãe. Acabava-se em discussões em tom alto com a velhinha.
Briga familiar para uns, motivos de gargalhadas dos moradores das casas vizinhas. Muitas vezes, o bate-boca ocorria com cada uma de seu lado do muro. Volume no 10. Com respostas agressivas e outras tantas descabidas. Aos primeiros insultos, os vizinhos iam para janela. Faziam de conta que estavam a verificar se viria chuva, se iria esfriar.
Certo dia, cada uma das mulheres estavam em suas respectivas casas. Dedicavam as horas em tarefas domésticas. E, mentalmente, a planejar os próximos xingamentos para fazer bonito para quando o tempo fechasse. A filha estava por iniciar a lavagem das roupas que enchiam os cestos. A velhinha a lavar a louça do cafezinho com as fagueiras amigas minutos antes.
Do outro lado do muro, a filha de dona Vilma catava cuecas e bermudas do filho e do marido, espalhadas pela casa. Ainda, era necessário pegar as roupas de cama e ela pede ajuda à neta de Vilma, do outro lado da residência, trancada no seu quarto decorado com motivos adolescentes. “Minha filha, vem aqui. Preciso da sua ajuda!”, gritou para que a mocinha escutasse. Do outro lado, com as orelhas cansadas pelo tempo, dona Vilma saiu batendo as tamancas no chão. Furiosa, partiu em direção ao muro. “Sou linguaruda mesmo”, dando início a mais um colossal barraco.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
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