Iniciar, Programas, Microsoft Office, Word. Fica a pergunta: por que “palavra” se todos usam para escrever mais de uma? Vai saber. A tela predominante branca, representando uma folha, é um convite ou um desafio? Mais uma pergunta que fica sem resposta. Pelo menos a primeira palavra está definida. Coloco o nome da cidade, espaço, um traçinho e outro espaço. Uma das obrigações do texto do diário em que a história deverá ser publicada.
Feito isso em um segundo, quem sabe um pouco mais, a barrinha vertical cisma em ficar piscando. Clamando por mais palavras, por mais trabalho. Com a mão direita espalmada, coço o queixo, às vezes habitado pela barba rala meio alourada. As costas pressionam o encosto e cadeira vai para trás. As rodinhas me afastam das letrinhas estampadas do teclado. Olho para o teto. Continua da mesma cor da semana passada. Coloco algumas palavras. Não me agrada. Apago selecionando tudo e pressiono o delete. Fica só o nome da cidade na frente mesmo. Displicente, digito despretensiosamente “siodjsaidjiasdja”. Repito a operação anterior.
Uma nova idéia, novas palavras começam a formar o que horas depois será lido por uma grande porção de pessoas ou meia dúzia. Sai a primeira fase, começa a segunda. Jogo tudo isso numa outra linha e começo novamente. Agora vai. Foi. O que sobrou foi apagado. Um parágrafo, com umas cinco ou seis linhas. Algumas vezes tem sete ou até oito. Penso que as seguintes deverão ter o mesmo tamanho. Sempre me lembro de um livro do jornalista Ricardo Noblat quando escrevo o primeiro parágrafo. O cara tem mania de escrever todos os parágrafos do mesmo tamanho.
Tento, mas sempre há os que ficam maiores, outros menores. Não dou bola. Coloco mais algumas palavras e recorro às anotações. “Cadê aquele parte em que o cara falava sobre a estimativa para o próximo mês?”, converso mentalmente. Achei. De primeira não entendo aqueles rabiscos e garranchos. Observo novamente, abro aspas e toco o que o cara falou. Fecho e coloco o nome do carinha e sua profissão depois da vírgula.
Procuro na internet algo relacionado. Às vezes serve. Opa, já estou pra começar o quarto parágrafo. Olhos os três anteriores e me dou conta que não estão do mesmo tamanho. Deixo a mesa para saber qual o espaço, em que página será acomodado aquilo tudo. Aproveito e deixo a sala. Tomo um copo d’água, pego um cafezinho. Comento algo com alguém e volto a me sentar. Reviso o que foi escrito até ali. Conferir se não passou uma bobagem e para poder retomar o assunto.
Escrevo mais um ou dois parágrafos. Será que está pronto? No texto sobram afirmações, nos meus pensamentos as interrogações. Para tentar me convencer, nova revisão. Desta vez mais criteriosa, de olho em possíveis erros – digitação, palavras repetidas e até o estilo. Recordo de uma informação bacana que cairia bem depois da primeira fase do parágrafo três. Escrevo e gosto. Fica ali. Volto umas três sentenças antes para continuar a correção. Acredito que está bom. Não! “Ufa”, suspiro. Ponto final.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Casal Jota
Em comum tinham apenas o “jota” grafado no início dos nomes. Assim era uns dez anos antes, quando tiveram o primeiro contato. Na época o rapaz nem sabia o que queria ser quando crescer. A moça ensaiava os primeiros passos na profissão. Porém, não trocavam muitas palavras. Nada além de “oi”, “oi”, “tudo bem?”, “tuuudo”. E assim foi por volta de três pares de anos.
Passado o período tornaram-se colegas de profissão. Cada qual no seu emprego. Tinham a mesma formação. Trabalhavam em setores diferentes, ainda que correlacionados. A menina abastecia com informações empresas do gênero em que ele labutava. Ainda assim, os contatos ficavam no “oi”, “oi”, “tudo bem?”, “tuuudo”. Acrescidos de “alguma novidade por ai?”, de ambos os lados, praticamente. Por motivos meramente profissionais, os dois começaram se aproximar. Coisas de trabalho.
Deve ter sido motivado por algum grande acontecimento na empresa em que a moça dava o sangue. Ele cumpria com suas obrigações no local de trabalho. Por força da labuta, passaram a se falar com mais freqüência: “oi”, “oi”, “tudo bem?”, “tuuudo”. “Acha que dá para mandar aquele material até terça? Conseguiu marcar com aquele professor de química?”.
Em meio aos assuntos, descobriam um pouco mais sobre um e outro. Assim, guardavam para si “Ele é bacana, inteligente”, pensava a mocinha. “Ô lá em casa”, suspirava o guri. Porém, quando se encontravam em ocasiões de trabalho permanecia o rito “oi”, “oi”, “tudo bem?”, “tuuudo”. Foi durante uma conversa com um amigo em comum que os pensamentos contidos foram externados. O coleguinha tratou logo de fazer às vezes de cupido. Ou pombo correio. Vai saber.
Numa determinada festa, encontraram-se. “Oi”, “oi”, “tudo bem?”, “tuuudo”. E ficaram um a cercar o outro. Ambos aguardavam um ato, uma palavra que confirmasse o que o bocudo dissera. Passada a tensão e, lá pelas tantas, tiraram aquela história toda a limpo. Beijaram-se, trocaram confidências, números de telefones particulares e promessas de “me liga”, “vamos combinar alguma coisa”.
Passado um semestre, conversam menos durante o trabalho e mais em seus momentos de vida privada. Os papos são alongados, ainda que mantenham as saudações de uma década, acrescido de um vocábulo: “Oi, amor”, “oi”, “tudo bem, amor?”, “tuuudo, môr”.
Passado o período tornaram-se colegas de profissão. Cada qual no seu emprego. Tinham a mesma formação. Trabalhavam em setores diferentes, ainda que correlacionados. A menina abastecia com informações empresas do gênero em que ele labutava. Ainda assim, os contatos ficavam no “oi”, “oi”, “tudo bem?”, “tuuudo”. Acrescidos de “alguma novidade por ai?”, de ambos os lados, praticamente. Por motivos meramente profissionais, os dois começaram se aproximar. Coisas de trabalho.
Deve ter sido motivado por algum grande acontecimento na empresa em que a moça dava o sangue. Ele cumpria com suas obrigações no local de trabalho. Por força da labuta, passaram a se falar com mais freqüência: “oi”, “oi”, “tudo bem?”, “tuuudo”. “Acha que dá para mandar aquele material até terça? Conseguiu marcar com aquele professor de química?”.
Em meio aos assuntos, descobriam um pouco mais sobre um e outro. Assim, guardavam para si “Ele é bacana, inteligente”, pensava a mocinha. “Ô lá em casa”, suspirava o guri. Porém, quando se encontravam em ocasiões de trabalho permanecia o rito “oi”, “oi”, “tudo bem?”, “tuuudo”. Foi durante uma conversa com um amigo em comum que os pensamentos contidos foram externados. O coleguinha tratou logo de fazer às vezes de cupido. Ou pombo correio. Vai saber.
Numa determinada festa, encontraram-se. “Oi”, “oi”, “tudo bem?”, “tuuudo”. E ficaram um a cercar o outro. Ambos aguardavam um ato, uma palavra que confirmasse o que o bocudo dissera. Passada a tensão e, lá pelas tantas, tiraram aquela história toda a limpo. Beijaram-se, trocaram confidências, números de telefones particulares e promessas de “me liga”, “vamos combinar alguma coisa”.
Passado um semestre, conversam menos durante o trabalho e mais em seus momentos de vida privada. Os papos são alongados, ainda que mantenham as saudações de uma década, acrescido de um vocábulo: “Oi, amor”, “oi”, “tudo bem, amor?”, “tuuudo, môr”.
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