Não que fosse um sujeito mal humorado ou desgostoso com a vida. Pelo contrário. Jamais negava um sorriso. Contava piada ou caso pitoresco sempre que podia ou quando o momento pedia. Salvo exceções. Porém, depois daquele Carnaval, as atitudes de Ronnie tornaram-se mais carregadas de alegria. Em maioria exageradas e inapropriadas.
Vê algo, recorda-se e solta uma risada. Indecifrável para quem está ao entorno. São as memórias. Não tão memoráveis assim. Ron, para os amigos, desde a quarta-feira de cinzas apresenta-se desta maneira.
Para se ter uma noção. Viu uma nota de cinco mangos amassada sobre a mesa e deu uma longa gargalhada. Lembrara-se de que adquiria as cervejas de duas em duas. “Uma é três, duas cinco”, ecoava a voz de ambulantes em sua cabeça. Tomava as duas, sozinho. Revelador.
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
O pé direito de Ritinha
Ela se acha moderna. Ritinha tem convicção de que as coisas que gosta a fazem uma mulher do Século 21. Tem os badulaques da moda. Tigrados, zebrados e onçados. É adoradora de reggae. Mas não abre mão de um pagodinho aos finais de semana. Gosta de esportes e faz ao que está ao seu alcance para manter-se “comestível” aos olhos masculinos. Não se faz de pudica e nos bailinhos aprecia, nem sempre com tanta moderação. É solteira por opção. Na lista de predileções também consta os lençóis de camas alheias. Com os atributos em dia, contava os dias para mais um Carnaval.
Na quarta-feira, antes dos dias de folia do momo, durante uma revigorante partida de voleibol com as amiguinhas, ao ir buscar uma bola rebatida, deu uma topada que deixara o tornozelo em frangalhos. Foi levada às pressas para um pronto socorro. O médico enfaixou, passou a receita e pediu repouso. “Sem Carnaval, doutor?”, questionou esperançosa. O carinha de branco assentiu. Voltou para a residência de verão lagunense que alugara, com outras cinco amigas, cabisbaixa. “Seria o fim? Um investimento de todo ano jogado fora?”, refletia.
Chegou a fatídica sexta-feira. Data da estréia. Ela lá olhando para latas e para amigas já em ritmo de festa. Não se conteve. Botou uma calça para cobrir o curativo, segurou firme a lata, olhou para a porta, deu um golaço, pegou outra latinha, deu um gole menor, e partiu. “Seja o que Deus quiser”, dizia para si mesmo enquanto caminhava do apêzinho nos Molhes até a avenida, no Mar Grosso. Com carro alegórico estacionado, sorvia o líquido e começava a esquecer das recomendações do doutor. “Que se foda”, falou em alto tom, lá pelas tantas.
Mamadinha, Ritinha colou os olhos no carinha com sotaque carioca. O garotão seria o contemplado daquela primeira noite. O carinha sacou, colou e faturou. Entre goles e súplicas do mau intencionado moçoilo, foram ao hotel curtir a coleção de sungas e gravatas borboletas que ele havia trazido para os dias de folia. Dali por diante, os relatos restringe-se a uivos e gemidos. Indecifráveis. Aninhou-se por lá mesmo.
Acordou às 11 horas. Com gosto de guarda-chuva na boca e assada. Vestiu-se e partiu trôpega. Não sabia se era a fratura a lhe incomodar ou cabeça a pesar. Durante a longa caminhada, todos apontavam para Ritinha, decifrando suas ações anteriores. Com um leve aceno e a mão espalmada no ar, pedia que parassem. Ajeitava-se e levantava a barra da calça, mostrando as ataduras. Assim fazia a cada 10 passos. Meia-hora depois, próximo do apê, já de saco-cheio, um menino repete a cena. Levantou o dedo médio da mão direita e balbuciou algo. Apesar da lata que segurava com a canhota, ninguém acreditava que o passo desajeitado era fruto do acidente, três dias atrás a estas alturas.
Na quarta-feira, antes dos dias de folia do momo, durante uma revigorante partida de voleibol com as amiguinhas, ao ir buscar uma bola rebatida, deu uma topada que deixara o tornozelo em frangalhos. Foi levada às pressas para um pronto socorro. O médico enfaixou, passou a receita e pediu repouso. “Sem Carnaval, doutor?”, questionou esperançosa. O carinha de branco assentiu. Voltou para a residência de verão lagunense que alugara, com outras cinco amigas, cabisbaixa. “Seria o fim? Um investimento de todo ano jogado fora?”, refletia.
Chegou a fatídica sexta-feira. Data da estréia. Ela lá olhando para latas e para amigas já em ritmo de festa. Não se conteve. Botou uma calça para cobrir o curativo, segurou firme a lata, olhou para a porta, deu um golaço, pegou outra latinha, deu um gole menor, e partiu. “Seja o que Deus quiser”, dizia para si mesmo enquanto caminhava do apêzinho nos Molhes até a avenida, no Mar Grosso. Com carro alegórico estacionado, sorvia o líquido e começava a esquecer das recomendações do doutor. “Que se foda”, falou em alto tom, lá pelas tantas.
Mamadinha, Ritinha colou os olhos no carinha com sotaque carioca. O garotão seria o contemplado daquela primeira noite. O carinha sacou, colou e faturou. Entre goles e súplicas do mau intencionado moçoilo, foram ao hotel curtir a coleção de sungas e gravatas borboletas que ele havia trazido para os dias de folia. Dali por diante, os relatos restringe-se a uivos e gemidos. Indecifráveis. Aninhou-se por lá mesmo.
Acordou às 11 horas. Com gosto de guarda-chuva na boca e assada. Vestiu-se e partiu trôpega. Não sabia se era a fratura a lhe incomodar ou cabeça a pesar. Durante a longa caminhada, todos apontavam para Ritinha, decifrando suas ações anteriores. Com um leve aceno e a mão espalmada no ar, pedia que parassem. Ajeitava-se e levantava a barra da calça, mostrando as ataduras. Assim fazia a cada 10 passos. Meia-hora depois, próximo do apê, já de saco-cheio, um menino repete a cena. Levantou o dedo médio da mão direita e balbuciou algo. Apesar da lata que segurava com a canhota, ninguém acreditava que o passo desajeitado era fruto do acidente, três dias atrás a estas alturas.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Novo endereço
Todas as aventuras documentadas durante o Carnaval-09 passam para novo endereço. No www.residenciamilanez.blogspot.com o mundo acompanhara o melhor do sul mundial.
Com a medida, o www.bemsacada.blogspot.com mantém seu projeto original e entornará outros fatos.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Contos carnavalescos
O Carnaval bateu a porta. Foi recebido com uma lata de cerveja gelada e uma máscara de Batman. Enfim chegou a data mais esperadas do ano para muitos. Uns caem na farra, e às vezes no chão, outros caem na cama, querendo sossego. Independente do rumo, os dias de folia reservam episódios pitorescos, daqueles que voltam às conversas sempre que uma ou duas testemunhas se encontram lá pelos dias de fevereiro. Vejamos algumas.
Velha molhadinha
O sol dera o ar de sua graça a poucos minutos. Eles ainda estavam lá. Juquinha e Paulinho empunhavam a sabe lá qual número da lata do suco de cevada. Era um Carnaval animado. Tanto quanto aos nossos foliões. A padaria já abrira suas portas e recebia uma considerável clientela. Bem heterogênea. Velhinhos com pães frescos e jornal do dia. Festeiros para fazer uma boquinha antes do irem para UTI. E uma parcela mínima atrás de mais combustível da alegria. Neste último perfil estavam nossos caricatos heróis. Resolveram inovar. Com os poucos trocados, adquiram uma garrafa do melhor e mais barato champagne. Saíram pelas ruas a bebericar a Sidra Cereser, sabor maçã. Num pique distinto da maioria, indignavam-se com a terceira idade a desfilar sem fantasias, bumbum de fora ou carro alegórico. Uma velha revolta, recriminou com olhos fulminantes a atitude dos dois. Foi “premiada” com um banho do comemorativo líquido, bem como a cadelinha que levara para passear. Chamada Fifi, a cadela da tia idosa.
Churrasqueira pública
Em época nem tão longínqua, a avenida era liberada para carros nem tão alegóricos assim. A turma passava o boné e um era encarregado de ir até o ferro-velho adquirir o melhor modelo que a verba permitisse. A alegoria propiciava as mais diversas performances e era instrumento para a liberação da criatividade. Uns bem-humorados, outros com enfeites caprichados e, ainda, alguns não tão bem aproveitados. Tudo corria ao redor daqueles ex-possantes. Porém todos acabam da mesma maneira. Eram queimados em praça pública. Obrigando os Bombeiros colocarem seus blocos para desfilar. Num deles, já em chamas, uma patotinha. Toninho e Juquinha se esbaldavam. Pulavam em cima da máquina e contemplavam o fogo. Faminto, Manoelzinho, amiguinho da dupla, preferia ficar de fora, porém próximo. Aproveitava a brasa para manter seu crepe aquecido, entre mordidas e longos goles de cerveja.
Velha molhadinha
O sol dera o ar de sua graça a poucos minutos. Eles ainda estavam lá. Juquinha e Paulinho empunhavam a sabe lá qual número da lata do suco de cevada. Era um Carnaval animado. Tanto quanto aos nossos foliões. A padaria já abrira suas portas e recebia uma considerável clientela. Bem heterogênea. Velhinhos com pães frescos e jornal do dia. Festeiros para fazer uma boquinha antes do irem para UTI. E uma parcela mínima atrás de mais combustível da alegria. Neste último perfil estavam nossos caricatos heróis. Resolveram inovar. Com os poucos trocados, adquiram uma garrafa do melhor e mais barato champagne. Saíram pelas ruas a bebericar a Sidra Cereser, sabor maçã. Num pique distinto da maioria, indignavam-se com a terceira idade a desfilar sem fantasias, bumbum de fora ou carro alegórico. Uma velha revolta, recriminou com olhos fulminantes a atitude dos dois. Foi “premiada” com um banho do comemorativo líquido, bem como a cadelinha que levara para passear. Chamada Fifi, a cadela da tia idosa.
Churrasqueira pública
Em época nem tão longínqua, a avenida era liberada para carros nem tão alegóricos assim. A turma passava o boné e um era encarregado de ir até o ferro-velho adquirir o melhor modelo que a verba permitisse. A alegoria propiciava as mais diversas performances e era instrumento para a liberação da criatividade. Uns bem-humorados, outros com enfeites caprichados e, ainda, alguns não tão bem aproveitados. Tudo corria ao redor daqueles ex-possantes. Porém todos acabam da mesma maneira. Eram queimados em praça pública. Obrigando os Bombeiros colocarem seus blocos para desfilar. Num deles, já em chamas, uma patotinha. Toninho e Juquinha se esbaldavam. Pulavam em cima da máquina e contemplavam o fogo. Faminto, Manoelzinho, amiguinho da dupla, preferia ficar de fora, porém próximo. Aproveitava a brasa para manter seu crepe aquecido, entre mordidas e longos goles de cerveja.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Caso Pitiça – (im)prováveis teses
Alto, magro, gordo ou baixinho. Óculos de grau ou escuros. Careca ou com rabo de cavalo. Com joanete ou pé chato. O imaginário coletivo tenta perfilar Paulo Pitiça. Aquele da cagada. “Bota cagada nisso”. Porém, mais do que saber como é a personagem, os debates se acaloram quando o tema é o que teria feito o tal Pitiça às vésperas do Carnaval de 2008. Como as teorias conspiratórias, de que o verdadeiro beatle Paul McCartney morreu em 77, de que a guerra contra o Saddam foi encenada no deserto do Saara (e com ajuda de computação gráfica) e de que os anões de jardim um dia quebrarão o gesso e terão vida própria, Paulo P., de Pitiça, adentrou ao rol conspiratório. Vejamos algumas teses.
Peruca de touro 1
Paulo, como era chamado pelos colegas do departamento de Vigilância Sanitária da cidade, sempre manteve uma postura correta, de acordo com as exigências de chefia lhe requeriam. Sempre na linha. Cabelos pentados, colarinho engomado e gravatas burocraticamente sóbrias. Não era muito de sorrisos, mas não chegava a ser considerado mal-humorado. Depois de 30 anos daquela vidinha casa-trabalho-casa-futebol com os amigos na quarta-feira ou sair para almoçar fora todos os domingos, passou a detestar tudo que construíra ao longo das mais de três décadas com a esposa. Fugiu com a secretária, Ritinha (Furacão, para a turma da repartição) e deixou a esposa, o apartamento e dois filhos já crescidos.
Virou bicha
Quando chegou aos 50 sabia que não poderia mais protelar. Precisava fazer o exame de toque na próstata. Foi ao doutor, escolhido a dedo, pelo critério o menor. Na salinha, arreganhou-se e gostou. Dali pelos dias a seguir, praticava seus atos furtivamente, cada vez mais freqüentes. Prestes virar tema de comentários maldosos pela cidadezinha, a mulher um dia chegou em casa e encontrou-o “engatado” no vizinho do apê de cima. Saiu do armário, maquiado e aliviado.
Peruca de touro 2
A vida parecia que não lhe reservaria grandes emoções por diante. Casado há anos, com os filhos crescidos e contando os meses para vestir o uniforme do time dos aposentados, o pijamão, Pitiça seguia sua sina. Não se sentia entediado. Era feliz àquela maneira. Em sua cabeça repousava a certeza de que fizera tudo ao seu alcance. Dançou, beijou, deixou herdeiros, nadou no mar, comprou uma casa na cidade e outra na praia quando queria ou podia. Às vésperas do Carnaval, em que iria encarar os dois grossos volumes de Os Irmãos Karamazov, de Fiodor Dostoievski (o Dosta, segundo Mário Prata), descobriu que o mar de rosas que imaginara era revolto. “Desculpa, fui embora com o carinha que limpa a piscina. Volto em duas semanas para pegar minhas coisas”, dizia o bilhete da esposa.
“Dormi na praça”
Adorador dos festejos carnavalescos, Pitiça estava ansioso pela chegada dos dias de muita folia e cerveja gelada. Sabia que o Carnaval estava perto. Pois, mesmo assim, não se conteve e saiu em plena quarta-feira, véspera das festas, e enxugou todas. De um bar para o outro, trôpego, caiu na calçada e por ali dormiu. Voltou ao lar noutro dia, lá pelas 10, com cheiro forte no corpo, cara de quem dormiu de calça jeans e o cabelo alourado, fruto da brincadeira de crianças que jogaram água oxigenada em seu cocuruto enquanto estava desacordado. A mulher o mandou embora e foi aplaudida pela vizinhança.
Peruca de touro 1
Paulo, como era chamado pelos colegas do departamento de Vigilância Sanitária da cidade, sempre manteve uma postura correta, de acordo com as exigências de chefia lhe requeriam. Sempre na linha. Cabelos pentados, colarinho engomado e gravatas burocraticamente sóbrias. Não era muito de sorrisos, mas não chegava a ser considerado mal-humorado. Depois de 30 anos daquela vidinha casa-trabalho-casa-futebol com os amigos na quarta-feira ou sair para almoçar fora todos os domingos, passou a detestar tudo que construíra ao longo das mais de três décadas com a esposa. Fugiu com a secretária, Ritinha (Furacão, para a turma da repartição) e deixou a esposa, o apartamento e dois filhos já crescidos.
Virou bicha
Quando chegou aos 50 sabia que não poderia mais protelar. Precisava fazer o exame de toque na próstata. Foi ao doutor, escolhido a dedo, pelo critério o menor. Na salinha, arreganhou-se e gostou. Dali pelos dias a seguir, praticava seus atos furtivamente, cada vez mais freqüentes. Prestes virar tema de comentários maldosos pela cidadezinha, a mulher um dia chegou em casa e encontrou-o “engatado” no vizinho do apê de cima. Saiu do armário, maquiado e aliviado.
Peruca de touro 2
A vida parecia que não lhe reservaria grandes emoções por diante. Casado há anos, com os filhos crescidos e contando os meses para vestir o uniforme do time dos aposentados, o pijamão, Pitiça seguia sua sina. Não se sentia entediado. Era feliz àquela maneira. Em sua cabeça repousava a certeza de que fizera tudo ao seu alcance. Dançou, beijou, deixou herdeiros, nadou no mar, comprou uma casa na cidade e outra na praia quando queria ou podia. Às vésperas do Carnaval, em que iria encarar os dois grossos volumes de Os Irmãos Karamazov, de Fiodor Dostoievski (o Dosta, segundo Mário Prata), descobriu que o mar de rosas que imaginara era revolto. “Desculpa, fui embora com o carinha que limpa a piscina. Volto em duas semanas para pegar minhas coisas”, dizia o bilhete da esposa.
“Dormi na praça”
Adorador dos festejos carnavalescos, Pitiça estava ansioso pela chegada dos dias de muita folia e cerveja gelada. Sabia que o Carnaval estava perto. Pois, mesmo assim, não se conteve e saiu em plena quarta-feira, véspera das festas, e enxugou todas. De um bar para o outro, trôpego, caiu na calçada e por ali dormiu. Voltou ao lar noutro dia, lá pelas 10, com cheiro forte no corpo, cara de quem dormiu de calça jeans e o cabelo alourado, fruto da brincadeira de crianças que jogaram água oxigenada em seu cocuruto enquanto estava desacordado. A mulher o mandou embora e foi aplaudida pela vizinhança.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
A arte imita a vida
Eternizado pelo homem-palco ainda nesta década, subir ao palco em eventos formaturescos tornou-se destaque nas conversas nos dias seguintes aos bailinhos comemorativos no sul barriga verde. Uns com maior número de participação. Vulgo Bicão no topo da lista. Outros têm estatísticas mais discretas. Não importa o embalo do conjunto, o que vale é estar lá. O importante é participar, parodiando o papai-Gelol.
Há cinco anos, uma festa tremenda. Evento formaturesco e jornalístico, Clube 87 de Julho, animação, descontração e palco de fácil acesso. Está formatado o cenário para que nosso herói, Charles Uésle, viva seu momento cinematográfico. Charlinho para os amigos, Charlie para os anglo-saxões, jamais escondeu sua preferência por eventos do gênero. Sempre que pôde encarou a opção com umas das melhores alternativas, com ou sem convite. Um entusiasta.
Estava ele enfrente ao palco, não em cima. Ele não é muito disso, mas não recrimina os adeptos da prática. Animado, cervejinha na mão, curtindo com os colegas aquele clima festivo pela conclusão do ensino superior de qualquer um. Sobre o tablado destinado aos membros do conjunto musical, com outros foliões estava ela. Morena, alta, linda, expansiva, uma rosa entre os dedos e à procura de um amor hollywoodiano. A marmanjada de olho em Marcinha. Marcinha de olho no futuro marido.
Terminada a canção. A moreninha das grandes (fita métrica na vertical, não na horizontal) fita seus fãs e joga a flor para o ar, para alto, na direção das dezenas de pretendentes. Nosso herói, Uésle, com a ajuda de sua estatura privilegiada, toma a rosa em suas mãos. Mal sabia, estava marcado. Marcinha desce do palquinho e caminha na direção de Uésle. Olhos nos olhos. Ela para em frente do catador de flores, sorri e cola seus lábios no dele. E nunca mais se falaram.
Há cinco anos, uma festa tremenda. Evento formaturesco e jornalístico, Clube 87 de Julho, animação, descontração e palco de fácil acesso. Está formatado o cenário para que nosso herói, Charles Uésle, viva seu momento cinematográfico. Charlinho para os amigos, Charlie para os anglo-saxões, jamais escondeu sua preferência por eventos do gênero. Sempre que pôde encarou a opção com umas das melhores alternativas, com ou sem convite. Um entusiasta.
Estava ele enfrente ao palco, não em cima. Ele não é muito disso, mas não recrimina os adeptos da prática. Animado, cervejinha na mão, curtindo com os colegas aquele clima festivo pela conclusão do ensino superior de qualquer um. Sobre o tablado destinado aos membros do conjunto musical, com outros foliões estava ela. Morena, alta, linda, expansiva, uma rosa entre os dedos e à procura de um amor hollywoodiano. A marmanjada de olho em Marcinha. Marcinha de olho no futuro marido.
Terminada a canção. A moreninha das grandes (fita métrica na vertical, não na horizontal) fita seus fãs e joga a flor para o ar, para alto, na direção das dezenas de pretendentes. Nosso herói, Uésle, com a ajuda de sua estatura privilegiada, toma a rosa em suas mãos. Mal sabia, estava marcado. Marcinha desce do palquinho e caminha na direção de Uésle. Olhos nos olhos. Ela para em frente do catador de flores, sorri e cola seus lábios no dele. E nunca mais se falaram.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Regressiva
Cerveja. Papo. Dança do Créu. Tambor. Carro alegórico. Churrasco. Gelo. Banho de cerveja. Gargalhadas. Lampadazinha azul. Acordar ainda bêbado. Cerveja. Pegar a liderança. Água. Peró no mucho. Avenida. Balde. Carreteiro. Cerveja. Banho morno. Banho de mar. Paulistas. Cariocas. Cerveja. Boninho e Big Boss. Revezamento de leito. Bilhete pela porta. Douglas vestido de mulher. Bob Esponja. De Batman. Cerveja. “Hankiei”. “Bebi de mais”. Caipirinha. Uisquizinho da Bel. Queimada de largada. Cerveja. Calor. Muito calor. Se dar bem. Cair no chão. Achar o amor da vida. Achar vários amores da vida. Todo dia. Canja às 2. Canja às 8. Champanhe. Cerveja. Pão novo. “A Rafa?”. Deitar na calçada. Fazer xixi na rua. No beco. Na praia. No lar. E no bar. Não vi mais. Me perdi. Cerveja. “É hoje”. Pombo. Camarão. Funk. “Traz mais uma”. Cerveja.
O Carnaval tá quase.
PS: Faltou? Comente.
O Carnaval tá quase.
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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Ueca, 3 litros
Durante o verão, com ênfase no Carnaval, o assunto vem à tona. É discutido amplamente, porém sua origem é quase um tabu, mantido em sigilo absoluto. Do conhecimento de dois ou três. Prestes a virar uma lenda urbana. É notório que Raquel Rabelo tem uma capacidade de ingestão de líquidos superior à maioria. Menina acima da média, exclamam alguns. Quem conhece sabe da fama da moça: perna oca. Também citada como “perna ueca”, após a passagem de desbravadores espanhóis, em missão de paz, pelo litoral do sul do mundo. Basta uma mini-reunião etílica para que o vulgo seja entoado em sua homenagem.
Quem tem uma convivência mais aproximada com Raquel estima que a tal perna oca comporte em torno de três litros do drinque que vier: scotch, conhaque, capirinha, vodka, gin e cerveja. Principalmente cerveja. Sem dó, ela derruba copos e latas. Com a vantagem, enquanto uns caem por terra, Raquel sobra faceira. No máximo uma tonturinha.
O mito será revelado. Ainda pequenina, ali pelos seus seis ou sete anos, Raquelzinha foi vítima de um acidente doméstico que para alguns poderia ser considerado uma tragédia, irreversível. Fatalidade mesmo. Arteira, escalou uma grande estante em busca de uma garrafa com líquido com uma tonalidade jamais vista. Era um licor de amoras. Sentia-se atraída por aquele róseo e avermelhado. Um dia desvencilhou-se dos olhares atentos da mamãe e foi em busca do objeto de seus desejos. Faltando um palmo para botar os dedinhos na vidro, foi surpreendida quando o caminhão de gás sonorizava a 9ª Sinfonia de Beethoven. Assustada, perdeu o controle e foi ao chão, com o móvel caindo sobre sua perna direita.
Os meses seguintes foram de tristeza para a juvenil. No leito do hospital e em casa, pensava como driblaria seu destino com uma só uma perna. Tentou habituar-se com a prótese e teve êxito. Parecia ter nascido com ela, parecia que sempre esteve ali. Ao cruzar a puberdade e chegar à idade dos bailinhos e domingueiras, viu a oportunidade. Grande idéia. Foi ao marceneiro e pediu uma nova, já de acordo com seu tamanho, uma vez que crescera e chegara aos 2,07 metros de altura. Porém na engenharia do membro constava uma observação revolucionária, quase. A perna nova não poderia ser maciça ou preenchida.
Dali por diante se destacava entre as amigas e coleguinhas. Nem tanto pela sua habilidade de escolher companhias do sexo oposto. Mas pela capacidade absorção de líquidos. Nos primeiros dias de fevereiro os mais íntimos têm que demovê-la da idéia de procurar um cirurgião para amputar a perna esquerda por causa do Carnaval.
Quem tem uma convivência mais aproximada com Raquel estima que a tal perna oca comporte em torno de três litros do drinque que vier: scotch, conhaque, capirinha, vodka, gin e cerveja. Principalmente cerveja. Sem dó, ela derruba copos e latas. Com a vantagem, enquanto uns caem por terra, Raquel sobra faceira. No máximo uma tonturinha.
O mito será revelado. Ainda pequenina, ali pelos seus seis ou sete anos, Raquelzinha foi vítima de um acidente doméstico que para alguns poderia ser considerado uma tragédia, irreversível. Fatalidade mesmo. Arteira, escalou uma grande estante em busca de uma garrafa com líquido com uma tonalidade jamais vista. Era um licor de amoras. Sentia-se atraída por aquele róseo e avermelhado. Um dia desvencilhou-se dos olhares atentos da mamãe e foi em busca do objeto de seus desejos. Faltando um palmo para botar os dedinhos na vidro, foi surpreendida quando o caminhão de gás sonorizava a 9ª Sinfonia de Beethoven. Assustada, perdeu o controle e foi ao chão, com o móvel caindo sobre sua perna direita.
Os meses seguintes foram de tristeza para a juvenil. No leito do hospital e em casa, pensava como driblaria seu destino com uma só uma perna. Tentou habituar-se com a prótese e teve êxito. Parecia ter nascido com ela, parecia que sempre esteve ali. Ao cruzar a puberdade e chegar à idade dos bailinhos e domingueiras, viu a oportunidade. Grande idéia. Foi ao marceneiro e pediu uma nova, já de acordo com seu tamanho, uma vez que crescera e chegara aos 2,07 metros de altura. Porém na engenharia do membro constava uma observação revolucionária, quase. A perna nova não poderia ser maciça ou preenchida.
Dali por diante se destacava entre as amigas e coleguinhas. Nem tanto pela sua habilidade de escolher companhias do sexo oposto. Mas pela capacidade absorção de líquidos. Nos primeiros dias de fevereiro os mais íntimos têm que demovê-la da idéia de procurar um cirurgião para amputar a perna esquerda por causa do Carnaval.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Está no sangue (ou “A herança”) – parte 1
Os mesmos genes, o tipo sanguineo, o RH, o sobrenome. Fatores propagados de geração para geração, que vão se alongando na árvore genealógica somam-se a outros. Porém, sempre lá. Costumes e hábitos parecem também correr pelas veias de indivíduos da mesma família. Não há outra justificativa para o que acomete os Cardoso quando desfrutam das benesses e da animação da residência de verão Milanez e sua consagrada sacada. (Aliás, da sacada a inspiração para o nome deste esforçado bloguinho).
Os moços atendem por “os meninos da Darlete”. Inclusive. Pois eles, estes meninos,em diferentes anos e épocas seguem com bravura e coragem a manter vivas as tradições familiares até hoje.
1701 (incerto)
Foi na virada do século XVI para o XVII, em um ano incerto, que a história dos Cardoso foi prefaciada. Ao avistar as formas rochosas e arenosas do Morro dos Conventos, em Araranguá, foi dada a largada aos festejos após quase três meses no mar e à sina da família. Embarcado em uma nau vinda da Itália para o Brasil, com escala em Cabo Verde, o velho Gianluigi Cardoso começou a se umedecer de rum e losna, daquelas que chegam a ser curtidas com cobras. Vivas. Copinho cheio era copinho emborcado. Um a um, intervalado apenas por generosas cafungadas de rapé, Gianluigi nem viu quando sua alma deixou o corpo e passou a vagar sem rumo pelas terras araranguaenses. Escapando de canibais à espreita, refugiou-se em uma caverna e, logo após, rolou uma enorme pedra para bloquear a entrada. Dizem os antepassados que por lá ficou. Durante uns três anos.
1854
Pompeu Cardoso escreveu um capítulo pitoresco da sina da família. Foi o precoce. Na extinta cidade de Sementes do Paraná, onde hoje está o município de Grão-Pará, Pompeu passava as tardes a brincar com seu pião pelas ruas das cercanias em que morava com os pais e mais sete irmãos, todos mais velhos. Pompinho, como era chamado pelos habitantes da casa, não via a hora de chegar à maioridade para poder voltar tarde da noite com aquele cheiro forte que se assemelhava à querosene, muito utilizada na época para iluminação de vias públicas. Ele queria ser como os irmãos. Queria ir dormir alegre, falando coisas estranhas, porém divertidas. Resolveu se posicionar próximo às janelas dos bares do vilarejo. Bem abaixo da abertura ficava com seu surrado pião, porém mais atento ao que era proferido de dentro do estabelecimento etílico. Reza a lenda que, depois de muito ensaio, estava craque. Bastava um gritar “um gole pro santo”, que o garoto, como um cão faminto, abria o bocão a pescar a aguardente que vinha de dentro endereçado à calçada. Depois de um dia de uma grande tarrafada, quiçá sua maior até então, trancou-se na casolinha utilizada para as necessidades. Deram falta do pequeno Pompeu, o Pompinho, 15 dias depois. Os pais acharam que o menino havia partido com um circo mambembe que se apresentou na cidade na época. A tradição do gole pro santo ainda existe, porém não é mais tão religiosa como antigamente.
Os moços atendem por “os meninos da Darlete”. Inclusive. Pois eles, estes meninos,em diferentes anos e épocas seguem com bravura e coragem a manter vivas as tradições familiares até hoje.
1701 (incerto)
Foi na virada do século XVI para o XVII, em um ano incerto, que a história dos Cardoso foi prefaciada. Ao avistar as formas rochosas e arenosas do Morro dos Conventos, em Araranguá, foi dada a largada aos festejos após quase três meses no mar e à sina da família. Embarcado em uma nau vinda da Itália para o Brasil, com escala em Cabo Verde, o velho Gianluigi Cardoso começou a se umedecer de rum e losna, daquelas que chegam a ser curtidas com cobras. Vivas. Copinho cheio era copinho emborcado. Um a um, intervalado apenas por generosas cafungadas de rapé, Gianluigi nem viu quando sua alma deixou o corpo e passou a vagar sem rumo pelas terras araranguaenses. Escapando de canibais à espreita, refugiou-se em uma caverna e, logo após, rolou uma enorme pedra para bloquear a entrada. Dizem os antepassados que por lá ficou. Durante uns três anos.
1854
Pompeu Cardoso escreveu um capítulo pitoresco da sina da família. Foi o precoce. Na extinta cidade de Sementes do Paraná, onde hoje está o município de Grão-Pará, Pompeu passava as tardes a brincar com seu pião pelas ruas das cercanias em que morava com os pais e mais sete irmãos, todos mais velhos. Pompinho, como era chamado pelos habitantes da casa, não via a hora de chegar à maioridade para poder voltar tarde da noite com aquele cheiro forte que se assemelhava à querosene, muito utilizada na época para iluminação de vias públicas. Ele queria ser como os irmãos. Queria ir dormir alegre, falando coisas estranhas, porém divertidas. Resolveu se posicionar próximo às janelas dos bares do vilarejo. Bem abaixo da abertura ficava com seu surrado pião, porém mais atento ao que era proferido de dentro do estabelecimento etílico. Reza a lenda que, depois de muito ensaio, estava craque. Bastava um gritar “um gole pro santo”, que o garoto, como um cão faminto, abria o bocão a pescar a aguardente que vinha de dentro endereçado à calçada. Depois de um dia de uma grande tarrafada, quiçá sua maior até então, trancou-se na casolinha utilizada para as necessidades. Deram falta do pequeno Pompeu, o Pompinho, 15 dias depois. Os pais acharam que o menino havia partido com um circo mambembe que se apresentou na cidade na época. A tradição do gole pro santo ainda existe, porém não é mais tão religiosa como antigamente.
Está no sangue (ou “A herança”) – parte 2
1974
Esta é a história de Aristeu Cardoso. Ainda vivo e lúcido, é conhecido pela turma do dominó como seu Ari. Aventureiro, nos fins de semana gostava de passear em outras freguesias com sua motocicleta pelo litoral sul de Santa Catarina. Na mochila às costas cabia pouco, porém o necessário. Barraca, cuecas limpas e umas quatro ou cinco garrafas da extinta cerveja Malt 90. Sem luxo, às vezes variava. Ia de Schincariol, hoje Nova Schin. De Sombrio rumou com sua moto para a Praia do Camacho, em Jaguaruna, outrora uma pequena vila com dois ou três veranistas durante a alta temporada. Chegou na beira da praia, estrategicamente armou a barraca próximo à uma bodega e abriu a primeira de muitas. Dizem alguns da comunidade de pescadores da região que faltou cerveja naquela noite. Ao sol querer começar a raiar, encharcado até a alma, Ari foi para sua barraca. O pior ocorreu. Uma grande tormenta atingiu aquela pacata praia. Acordou 19 horas depois. Estava em Bombinhas.
2005
Esta é uma história carnavalesca e aconteceu com Lindomar Cardoso. Os amigos o chamavam de Lindo. Beleza não era muito o seu forte. Mas de papo ele era bom. Ô, se era. Daqui por diante a sina dos Cardoso funde-se à existência da residência de verão Milanez. Que dobradinha! Marchinhas a ecoar pelas ruas do Mar Grosso lá foi a turma desfrutar dos dias de folia do momo. Lindinho, como só sua mãe chamava, junto. O clima abafado era um convite para longos goles da mais gelada que aparecesse pela frente. E assim foi o Cardoso, enchendo sua lata até que, completamente mamado, desgarrou-se do grupinho e seguiu a festejar o Carnaval. Passadas 22 horas da última vez em que foi avistado, os amigos estavam preocupados com o sumiço do moço na faixa dos 20 anos. Bastou o rapazinho botar parte do cuco para dentro da residência, espiando pela fresta da porta para Argeu, sempre ele, içar o torrado folião. Transtornado, queria retornar às balburdias e latas, impedido pelo seu salvador com um convite para um papinho. Sobre um balanço das festividades até o momento. Os ponteiros deram voltas enquanto conversavam e Lindo foi vencido pelo cansaço. Sua última cartada antes do sono profundo, uma visitinha ao banheiro. No recinto tudo ficou negro e as paredes se fecharam. Por lá ficou 37 horas. Só foi resgatado com um bilhete com súplicas de Texugo, seu fiel escudeiro. “Tá vivo?”, questionava o singelo e providencial recado.
2009
O último capítulo escrito até então. As obrigações profissionais e as responsabilidades de rapaz crescido fatalmente limitaram a convivência de José Cardoso junto aos animados da sacada. Pois que, num sábado ensolarado, encontrou uma enorme brecha em sua agenda e partiu para um fim de semana na residência Milanez. Emocionado em poder voltar àquele ambiente mágico e em que os problemas parecem sumir entre goles e mais goles, posicionou-se ao redor da mesa, calibrou a mão e deu início aos trabalhos. Com os olhos banhados em lágrimas descia garrafas goela abaixo e planejava junto dos comparsas as próximas horas de lazer. Sem lágrimas e já com as pupilas à brilhar foram a uma animada festinha à beira mar. Embriagado pelos festejos, embriagou-se. A volta ao porto seguro foi tortuosa. A cada dois passos, parava e mirava o caminho à sua frente. Após muito esforço instalou-se e foi ouvir a partida entre Ferroviário e Carlos Renaux pelo rádio. Sonolento e entusiasta das tradições dos Cardoso, partiu para o sanitário. Por lá ficou cerca de 12 horas, donde saiu pronto para mais uma. Noite de sono.
Esta é a história de Aristeu Cardoso. Ainda vivo e lúcido, é conhecido pela turma do dominó como seu Ari. Aventureiro, nos fins de semana gostava de passear em outras freguesias com sua motocicleta pelo litoral sul de Santa Catarina. Na mochila às costas cabia pouco, porém o necessário. Barraca, cuecas limpas e umas quatro ou cinco garrafas da extinta cerveja Malt 90. Sem luxo, às vezes variava. Ia de Schincariol, hoje Nova Schin. De Sombrio rumou com sua moto para a Praia do Camacho, em Jaguaruna, outrora uma pequena vila com dois ou três veranistas durante a alta temporada. Chegou na beira da praia, estrategicamente armou a barraca próximo à uma bodega e abriu a primeira de muitas. Dizem alguns da comunidade de pescadores da região que faltou cerveja naquela noite. Ao sol querer começar a raiar, encharcado até a alma, Ari foi para sua barraca. O pior ocorreu. Uma grande tormenta atingiu aquela pacata praia. Acordou 19 horas depois. Estava em Bombinhas.
2005
Esta é uma história carnavalesca e aconteceu com Lindomar Cardoso. Os amigos o chamavam de Lindo. Beleza não era muito o seu forte. Mas de papo ele era bom. Ô, se era. Daqui por diante a sina dos Cardoso funde-se à existência da residência de verão Milanez. Que dobradinha! Marchinhas a ecoar pelas ruas do Mar Grosso lá foi a turma desfrutar dos dias de folia do momo. Lindinho, como só sua mãe chamava, junto. O clima abafado era um convite para longos goles da mais gelada que aparecesse pela frente. E assim foi o Cardoso, enchendo sua lata até que, completamente mamado, desgarrou-se do grupinho e seguiu a festejar o Carnaval. Passadas 22 horas da última vez em que foi avistado, os amigos estavam preocupados com o sumiço do moço na faixa dos 20 anos. Bastou o rapazinho botar parte do cuco para dentro da residência, espiando pela fresta da porta para Argeu, sempre ele, içar o torrado folião. Transtornado, queria retornar às balburdias e latas, impedido pelo seu salvador com um convite para um papinho. Sobre um balanço das festividades até o momento. Os ponteiros deram voltas enquanto conversavam e Lindo foi vencido pelo cansaço. Sua última cartada antes do sono profundo, uma visitinha ao banheiro. No recinto tudo ficou negro e as paredes se fecharam. Por lá ficou 37 horas. Só foi resgatado com um bilhete com súplicas de Texugo, seu fiel escudeiro. “Tá vivo?”, questionava o singelo e providencial recado.
2009
O último capítulo escrito até então. As obrigações profissionais e as responsabilidades de rapaz crescido fatalmente limitaram a convivência de José Cardoso junto aos animados da sacada. Pois que, num sábado ensolarado, encontrou uma enorme brecha em sua agenda e partiu para um fim de semana na residência Milanez. Emocionado em poder voltar àquele ambiente mágico e em que os problemas parecem sumir entre goles e mais goles, posicionou-se ao redor da mesa, calibrou a mão e deu início aos trabalhos. Com os olhos banhados em lágrimas descia garrafas goela abaixo e planejava junto dos comparsas as próximas horas de lazer. Sem lágrimas e já com as pupilas à brilhar foram a uma animada festinha à beira mar. Embriagado pelos festejos, embriagou-se. A volta ao porto seguro foi tortuosa. A cada dois passos, parava e mirava o caminho à sua frente. Após muito esforço instalou-se e foi ouvir a partida entre Ferroviário e Carlos Renaux pelo rádio. Sonolento e entusiasta das tradições dos Cardoso, partiu para o sanitário. Por lá ficou cerca de 12 horas, donde saiu pronto para mais uma. Noite de sono.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Não sei o que você fez às vésperas do Carnaval de 2008
Sol lá em cima tostando a pele de veranistas e transeuntes, barriga cuidadosamente ajeitada sobre o calção, sandálias havaianas 42 e as unhas de canário belga afiadas. Pela orla marítima da Praia do Mar Grosso, lá ia seu Argeu, aproveitando a sexta-feira ensolarada em solo lagunense, há poucas horas dos festejos carnavalescos. Praticando sua não tão freqüente caminhada e a olhar os corpinhos estendidos na areia. Passada acertada, concentrada, mas a cabeça longe. Estava a planejar toda a logística que um Carnaval na residência Milanez demanda. Cardápios, caixas de cerveja, distribuição dos quartos e leitos. E aperta o passo.
Ainda nos primeiros metros da primeira etapa, intrigou-se com um sujeitinho e sua esposa a prestar atenção nas suas não tão largas passadas sobre a areia umedecida pelas águas do Oceano Atlântico. Deu de ombros e voltou seus pensamentos ao vai e vem das pernas e às geladas a gelar. Prestes a completar a etapa derradeira de seu exercício matinal, passa pelo mesmo ponto (de interrogação). Não resiste e cede aos olhares, antes que a pulga lhe chegue a arrancar um pedaço da orelha. Puxa um papinho sem-vergonha, entretanto animado. “Opa, tudo bom?”, "Tudo”, “Tá quente...”, “Ô! Da até de pelar um porco”.
Silêncio, enquanto os (quem sabe?) velhos amigos de longa data se estudam, como lutadores de boxe nos primeiros momentos do Round 1. A mulher do outro cutuca, ele encara o nosso personagem mais querido do Sul do mundo e tasca: “Pois então, Balofa?”. Argeu franze a testa e arqueia as sobrancelhas, surpreendido com o apelido inesperado, mas sem deixar transparecer estranheza. O tio da sunga vermelha não percebe, e emenda: “Que cagada a da Paulo Pitiça, né?”.
Perplexo, com testa ainda mais enrugada e a sobrancelha na altura do couro capilar da cabeça agrisalhada. Sem informações sobre o cidadão, nosso personagem achou por bem utilizar da experiência que os anos lhe deram: “Olha... (escolheu bem as palavras) bota cagada nisso!” e foi para casa, igualmente pensativo, porém sobre em um novo motivo.
E o Carnaval lagunense de 2008 não foi como o de anos anteriores. Perdeu a animação do contagiante Paulo Pitiça.
Ainda nos primeiros metros da primeira etapa, intrigou-se com um sujeitinho e sua esposa a prestar atenção nas suas não tão largas passadas sobre a areia umedecida pelas águas do Oceano Atlântico. Deu de ombros e voltou seus pensamentos ao vai e vem das pernas e às geladas a gelar. Prestes a completar a etapa derradeira de seu exercício matinal, passa pelo mesmo ponto (de interrogação). Não resiste e cede aos olhares, antes que a pulga lhe chegue a arrancar um pedaço da orelha. Puxa um papinho sem-vergonha, entretanto animado. “Opa, tudo bom?”, "Tudo”, “Tá quente...”, “Ô! Da até de pelar um porco”.
Silêncio, enquanto os (quem sabe?) velhos amigos de longa data se estudam, como lutadores de boxe nos primeiros momentos do Round 1. A mulher do outro cutuca, ele encara o nosso personagem mais querido do Sul do mundo e tasca: “Pois então, Balofa?”. Argeu franze a testa e arqueia as sobrancelhas, surpreendido com o apelido inesperado, mas sem deixar transparecer estranheza. O tio da sunga vermelha não percebe, e emenda: “Que cagada a da Paulo Pitiça, né?”.
Perplexo, com testa ainda mais enrugada e a sobrancelha na altura do couro capilar da cabeça agrisalhada. Sem informações sobre o cidadão, nosso personagem achou por bem utilizar da experiência que os anos lhe deram: “Olha... (escolheu bem as palavras) bota cagada nisso!” e foi para casa, igualmente pensativo, porém sobre em um novo motivo.
E o Carnaval lagunense de 2008 não foi como o de anos anteriores. Perdeu a animação do contagiante Paulo Pitiça.
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