terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Está no sangue (ou “A herança”) – parte 1

Os mesmos genes, o tipo sanguineo, o RH, o sobrenome. Fatores propagados de geração para geração, que vão se alongando na árvore genealógica somam-se a outros. Porém, sempre lá. Costumes e hábitos parecem também correr pelas veias de indivíduos da mesma família. Não há outra justificativa para o que acomete os Cardoso quando desfrutam das benesses e da animação da residência de verão Milanez e sua consagrada sacada. (Aliás, da sacada a inspiração para o nome deste esforçado bloguinho).
Os moços atendem por “os meninos da Darlete”. Inclusive. Pois eles, estes meninos,em diferentes anos e épocas seguem com bravura e coragem a manter vivas as tradições familiares até hoje.

1701 (incerto)
Foi na virada do século XVI para o XVII, em um ano incerto, que a história dos Cardoso foi prefaciada. Ao avistar as formas rochosas e arenosas do Morro dos Conventos, em Araranguá, foi dada a largada aos festejos após quase três meses no mar e à sina da família. Embarcado em uma nau vinda da Itália para o Brasil, com escala em Cabo Verde, o velho Gianluigi Cardoso começou a se umedecer de rum e losna, daquelas que chegam a ser curtidas com cobras. Vivas. Copinho cheio era copinho emborcado. Um a um, intervalado apenas por generosas cafungadas de rapé, Gianluigi nem viu quando sua alma deixou o corpo e passou a vagar sem rumo pelas terras araranguaenses. Escapando de canibais à espreita, refugiou-se em uma caverna e, logo após, rolou uma enorme pedra para bloquear a entrada. Dizem os antepassados que por lá ficou. Durante uns três anos.


1854
Pompeu Cardoso escreveu um capítulo pitoresco da sina da família. Foi o precoce. Na extinta cidade de Sementes do Paraná, onde hoje está o município de Grão-Pará, Pompeu passava as tardes a brincar com seu pião pelas ruas das cercanias em que morava com os pais e mais sete irmãos, todos mais velhos. Pompinho, como era chamado pelos habitantes da casa, não via a hora de chegar à maioridade para poder voltar tarde da noite com aquele cheiro forte que se assemelhava à querosene, muito utilizada na época para iluminação de vias públicas. Ele queria ser como os irmãos. Queria ir dormir alegre, falando coisas estranhas, porém divertidas. Resolveu se posicionar próximo às janelas dos bares do vilarejo. Bem abaixo da abertura ficava com seu surrado pião, porém mais atento ao que era proferido de dentro do estabelecimento etílico. Reza a lenda que, depois de muito ensaio, estava craque. Bastava um gritar “um gole pro santo”, que o garoto, como um cão faminto, abria o bocão a pescar a aguardente que vinha de dentro endereçado à calçada. Depois de um dia de uma grande tarrafada, quiçá sua maior até então, trancou-se na casolinha utilizada para as necessidades. Deram falta do pequeno Pompeu, o Pompinho, 15 dias depois. Os pais acharam que o menino havia partido com um circo mambembe que se apresentou na cidade na época. A tradição do gole pro santo ainda existe, porém não é mais tão religiosa como antigamente.

2 comentários:

Imediata disse...

Hehehheh, adooooro. Assim tu me fazes um favor, que eu gosto do texto mas não leio mais os periódicos locais. Além do que, blogueiros não têm censura. Invejinha do bloguinho bem bonitinho (e o meu cabeçalho, que tu prometeu, não vai sair?).

dbardini disse...

Entre idas e vindas, vale tbm uma crônica sobre o fatídigo ano de 71 em Capinzal...