quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O pé direito de Ritinha

Ela se acha moderna. Ritinha tem convicção de que as coisas que gosta a fazem uma mulher do Século 21. Tem os badulaques da moda. Tigrados, zebrados e onçados. É adoradora de reggae. Mas não abre mão de um pagodinho aos finais de semana. Gosta de esportes e faz ao que está ao seu alcance para manter-se “comestível” aos olhos masculinos. Não se faz de pudica e nos bailinhos aprecia, nem sempre com tanta moderação. É solteira por opção. Na lista de predileções também consta os lençóis de camas alheias. Com os atributos em dia, contava os dias para mais um Carnaval.

Na quarta-feira, antes dos dias de folia do momo, durante uma revigorante partida de voleibol com as amiguinhas, ao ir buscar uma bola rebatida, deu uma topada que deixara o tornozelo em frangalhos. Foi levada às pressas para um pronto socorro. O médico enfaixou, passou a receita e pediu repouso. “Sem Carnaval, doutor?”, questionou esperançosa. O carinha de branco assentiu. Voltou para a residência de verão lagunense que alugara, com outras cinco amigas, cabisbaixa. “Seria o fim? Um investimento de todo ano jogado fora?”, refletia.

Chegou a fatídica sexta-feira. Data da estréia. Ela lá olhando para latas e para amigas já em ritmo de festa. Não se conteve. Botou uma calça para cobrir o curativo, segurou firme a lata, olhou para a porta, deu um golaço, pegou outra latinha, deu um gole menor, e partiu. “Seja o que Deus quiser”, dizia para si mesmo enquanto caminhava do apêzinho nos Molhes até a avenida, no Mar Grosso. Com carro alegórico estacionado, sorvia o líquido e começava a esquecer das recomendações do doutor. “Que se foda”, falou em alto tom, lá pelas tantas.

Mamadinha, Ritinha colou os olhos no carinha com sotaque carioca. O garotão seria o contemplado daquela primeira noite. O carinha sacou, colou e faturou. Entre goles e súplicas do mau intencionado moçoilo, foram ao hotel curtir a coleção de sungas e gravatas borboletas que ele havia trazido para os dias de folia. Dali por diante, os relatos restringe-se a uivos e gemidos. Indecifráveis. Aninhou-se por lá mesmo.

Acordou às 11 horas. Com gosto de guarda-chuva na boca e assada. Vestiu-se e partiu trôpega. Não sabia se era a fratura a lhe incomodar ou cabeça a pesar. Durante a longa caminhada, todos apontavam para Ritinha, decifrando suas ações anteriores. Com um leve aceno e a mão espalmada no ar, pedia que parassem. Ajeitava-se e levantava a barra da calça, mostrando as ataduras. Assim fazia a cada 10 passos. Meia-hora depois, próximo do apê, já de saco-cheio, um menino repete a cena. Levantou o dedo médio da mão direita e balbuciou algo. Apesar da lata que segurava com a canhota, ninguém acreditava que o passo desajeitado era fruto do acidente, três dias atrás a estas alturas.

Um comentário:

Anônimo disse...

era loira o moça?? PQ se for eu sei quem eh...
ahahahaha
comedia totallll