terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Está no sangue (ou “A herança”) – parte 2

1974
Esta é a história de Aristeu Cardoso. Ainda vivo e lúcido, é conhecido pela turma do dominó como seu Ari. Aventureiro, nos fins de semana gostava de passear em outras freguesias com sua motocicleta pelo litoral sul de Santa Catarina. Na mochila às costas cabia pouco, porém o necessário. Barraca, cuecas limpas e umas quatro ou cinco garrafas da extinta cerveja Malt 90. Sem luxo, às vezes variava. Ia de Schincariol, hoje Nova Schin. De Sombrio rumou com sua moto para a Praia do Camacho, em Jaguaruna, outrora uma pequena vila com dois ou três veranistas durante a alta temporada. Chegou na beira da praia, estrategicamente armou a barraca próximo à uma bodega e abriu a primeira de muitas. Dizem alguns da comunidade de pescadores da região que faltou cerveja naquela noite. Ao sol querer começar a raiar, encharcado até a alma, Ari foi para sua barraca. O pior ocorreu. Uma grande tormenta atingiu aquela pacata praia. Acordou 19 horas depois. Estava em Bombinhas.


2005
Esta é uma história carnavalesca e aconteceu com Lindomar Cardoso. Os amigos o chamavam de Lindo. Beleza não era muito o seu forte. Mas de papo ele era bom. Ô, se era. Daqui por diante a sina dos Cardoso funde-se à existência da residência de verão Milanez. Que dobradinha! Marchinhas a ecoar pelas ruas do Mar Grosso lá foi a turma desfrutar dos dias de folia do momo. Lindinho, como só sua mãe chamava, junto. O clima abafado era um convite para longos goles da mais gelada que aparecesse pela frente. E assim foi o Cardoso, enchendo sua lata até que, completamente mamado, desgarrou-se do grupinho e seguiu a festejar o Carnaval. Passadas 22 horas da última vez em que foi avistado, os amigos estavam preocupados com o sumiço do moço na faixa dos 20 anos. Bastou o rapazinho botar parte do cuco para dentro da residência, espiando pela fresta da porta para Argeu, sempre ele, içar o torrado folião. Transtornado, queria retornar às balburdias e latas, impedido pelo seu salvador com um convite para um papinho. Sobre um balanço das festividades até o momento. Os ponteiros deram voltas enquanto conversavam e Lindo foi vencido pelo cansaço. Sua última cartada antes do sono profundo, uma visitinha ao banheiro. No recinto tudo ficou negro e as paredes se fecharam. Por lá ficou 37 horas. Só foi resgatado com um bilhete com súplicas de Texugo, seu fiel escudeiro. “Tá vivo?”, questionava o singelo e providencial recado.


2009
O último capítulo escrito até então. As obrigações profissionais e as responsabilidades de rapaz crescido fatalmente limitaram a convivência de José Cardoso junto aos animados da sacada. Pois que, num sábado ensolarado, encontrou uma enorme brecha em sua agenda e partiu para um fim de semana na residência Milanez. Emocionado em poder voltar àquele ambiente mágico e em que os problemas parecem sumir entre goles e mais goles, posicionou-se ao redor da mesa, calibrou a mão e deu início aos trabalhos. Com os olhos banhados em lágrimas descia garrafas goela abaixo e planejava junto dos comparsas as próximas horas de lazer. Sem lágrimas e já com as pupilas à brilhar foram a uma animada festinha à beira mar. Embriagado pelos festejos, embriagou-se. A volta ao porto seguro foi tortuosa. A cada dois passos, parava e mirava o caminho à sua frente. Após muito esforço instalou-se e foi ouvir a partida entre Ferroviário e Carlos Renaux pelo rádio. Sonolento e entusiasta das tradições dos Cardoso, partiu para o sanitário. Por lá ficou cerca de 12 horas, donde saiu pronto para mais uma. Noite de sono.

Um comentário:

Anônimo disse...

ahahahahah... Muito boaa....